
A Polícia Federal (PF) aprofundou as investigações sobre as fraudes contábeis que levaram a um rombo de R$ 22,8 bilhões na Americanas. O esquema, segundo a PF, beneficiou bancos com retornos expressivos, enquanto fornecedores e acionistas minoritários foram duramente prejudicados.
Ex-executivos da Americanas, agora atuando como delatores, afirmam que a colaboração dos bancos foi crucial para a continuidade das fraudes. As investigações apontam para a manipulação de registros financeiros, com a utilização de cartas fictícias de verba de propaganda cooperada e e-mails falsos, resultando na ocultação de dívidas e falta de transparência com os investidores.
"Sem o apoio dos bancos, as fraudes não teriam alcançado a magnitude observada." declarou Fábio da Silva Abrate, ex-diretor financeiro da Americanas.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) nega que as instituições financeiras tivessem conhecimento das irregularidades e alega que, se soubessem, não teriam continuado a conceder empréstimos. Os bancos afirmam ter mais de R$ 20 bilhões a receber, sem garantias, e que a responsabilidade pelas informações financeiras era dos gestores da Americanas. Essa narrativa, no entanto, não convence, dado o histórico de atuação questionável de algumas dessas instituições no Brasil.
O relatório da PF, que embasa a denúncia do Ministério Público Federal, envolve treze ex-executivos da Americanas, acusados de associação criminosa e manipulação de mercado. Entre os indiciados, estão Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, Anna Christina Ramos Saicali e José Timotheo de Barros.
As fraudes, que se estenderam por mais de uma década, utilizavam o mecanismo de risco sacado, comum no setor varejista. Esse mecanismo permitia à empresa antecipar pagamentos a fornecedores e apresentar balanços inflacionados, beneficiando acionistas com dividendos fictícios. A revelação das fraudes, no entanto, causou uma queda no valor das ações da empresa.
Flávia Carneiro, que trabalhou na empresa em 2007, relatou inconsistências desde sua chegada, indicando que as metas financeiras não refletiam a realidade, criando uma "bola de neve" de resultados inflacionados. Os delatores afirmam que as fraudes eram amplamente conhecidas internamente. Segundo Fábio Abrate, havia um "conhecimento generalizado" sobre as manobras financeiras.
"Havia um conhecimento generalizado sobre as manobras financeiras." afirmou Fábio Abrate.
A PF conclui que a operação contava com um conhecimento coletivo, sugerindo um ambiente corporativo de conivência com práticas ilícitas. O Santander declarou um prejuízo de quase R$ 4 bilhões devido às fraudes, enquanto o Itaú negou envolvimento. Ambos os bancos rejeitam a responsabilidade pelas demonstrações financeiras da Americanas.
Fonte: revistaoeste