No perĂodo de Carnaval, casos de violĂȘncia contra a mulher tendem a se tornar mais frequentes. O canal "Disque 100" do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania registrou um aumento em 38% do nĂșmero de denĂșncias durante o Carnaval de 2024 comparado com o ano anterior, chegando a 73 mil registros. A violação de direitos das mulheres aparece na lista dos principais casos, mais de 20%, incluindo as denĂșncias recebidas via Ligue 180, serviço sob gestão do Ministério das Mulheres.
Diante desse cenĂĄrio preocupante, o NĂșcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da Defensoria PĂșblica do Estado do Amazonas (DPE-AM), por meio de sua equipe multidisciplinar, orienta que é preciso estar atento às atitudes que podem configurar crimes sexuais, entre eles a importunação sexual, previsto na lei 13.718/2018, que estão entre os casos com maior frequĂȘncia registrados no perĂodo.
Para a assessora jurĂdica CĂĄssia de Oliveira, o "não" das mulheres deve ser respeitado e qualquer comportamento sem a sua permissão é crime. "Apalpar, passar a mão, o beijo forçado, cantadas invasivas, a "encoxada" no transporte pĂșblico, essas atitudes são exemplos de como acontece o crime de importunação sexual, que é praticar atos libidinosos [que tem objetivo de satisfação sexual] contra alguém sem o seu consentimento e para satisfazer os desejos do agressor ou a de outros. Nesse caso, não hĂĄ grave ameaça nem violĂȘncia, diferentemente do estupro, onde o ato é forçado e ocorre a violĂȘncia", alerta a servidora da DPE-AM.
CĂĄssia explica que as pessoas costumam confundir o assédio sexual com a importunação sexual, no entanto, o primeiro envolve uma condição de poder sobre a vĂtima. "O assédio é constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de uma condição de poder, de superior hierĂĄrquico. Pode acontecer nas relações de trabalho e outras que envolvem hierarquia. Exemplos de assédio são os elogios com conotação sexual, brincadeiras e toques no corpo inconvenientes e desrespeitosos, ameaças ou chantagens, stalking – vigiar a vida privada da vĂtima".
Por qual razão existe uma tendĂȘncia do crescimento de crimes desta natureza nesta época do ano? Para a assistente social do Nudem, MĂĄrcia Silva, em perĂodo de festas como o Carnaval, as violĂȘncias aumentam em razão do machismo "naturalizado".
"Precisamos romper com a ideia de que é normal que esses comportamentos sejam comuns no Carnaval, principalmente se a roupa que a mulher usa estĂĄ curta ou se ela tiver ingerido bebida alcoólica. Essas concepções partem de uma estrutura machista em que a mulher é considerada propriedade do homem e isso o autoriza a tocar seu corpo quando e como quiser. Essa estrutura também culpabiliza a vĂtima, inclusive por não conseguir reagir diante da violação", observa.
Mulheres não tem culpa!
Trabalhando diariamente no atendimento a mulheres em situação de vulnerabilidade no Nudem, a psicóloga Polyana Pinheiro ressalta que a mulher não é responsĂĄvel pela conduta do abusador e é necessĂĄrio procurar ajuda.
"É importante compreendermos que cada mulher esboça uma reação diferente e isso não invalida o que aconteceu. Por isso, o acolhimento e a valorização da fala, das experiĂȘncias da mulher são fundamentais, não apenas no atendimento, mas no enfrentamento dessas violĂȘncias no dia a dia e em perĂodos como o Carnaval. Podemos pensar também em formas de articular cuidado entre nós mulheres, em que validamos a fala da outra e ajudamos a encontrar uma rede de apoio. Em resumo: não é não! Nenhuma mulher deveria ter medo de ser assediada!".
Onde encontrar ajuda
Em casos de orientação jurĂdica e atendimento psicossocial, procure a Defensoria do Amazonas por meio do NĂșcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), que conta com atendimento personalizado e humanizado. Entre em contato pelo WhatsApp da Defensoria 92 98559-1599. As vĂtimas também podem ir diretamente em busca do atendimento presencial no nĂșcleo, localizado na avenida André AraĂșjo, nÂș 7, bairro Aleixo, em Manaus, de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h.
Casos urgentes também são atendidos pelo Plantão da Defensoria, que funciona de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. Aos sĂĄbados, domingos e feriados, o atendimento do Plantão ocorre das 8h às 18h. VocĂȘ pode iniciar atendimento de forma presencial na sede da Defensoria, localizada na Avenida André AraĂșjo, nÂș 679, no bairro Aleixo (ao lado da PMZ). O atendimento também pode ser via ligação telefônica para o nĂșmero (92) 98436-1791 ou enviando mensagem por WhatsApp para o nĂșmero (92) 98559-1599.
Canais de denĂșncia
Se vocĂȘ vivenciou ou presenciou alguma dessas situações para ajudar uma mulher em situação de risco, vocĂȘ também pode denunciar.
Ligue 180 – A Central de Atendimento à Mulher é um serviço de utilidade pĂșblica gratuito e confidencial. O atendimento é oferecido 24 horas por dia, todos os dias, inclusive sĂĄbados, domingos e feriados.
PolĂcia – VĂtimas podem acionar a guarnição da polĂcia mais próxima do local do evento. Elas também podem dirigir-se a uma delegacia para registrar boletim de ocorrĂȘncia em Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM) ou outra Delegacia de PolĂcia mais próxima.
Serviço de Apoio Emergencial à Mulher (Sapem) – O Sapem realiza ações que viabilizam o combate e enfrentamento à violĂȘncia doméstica e familiar contra a mulher. O serviço atua em regime de plantão 24 horas, todos os dias, e fica localizado na Av. MĂĄrio Ypiranga, 3395, Conjunto Eldorado, no Parque 10, Zona Centro-Sul.
Unidades de saĂșde – Quando houver ferimentos graves, com necessidade de pronto atendimento, a unidade de saĂșde ou hospital deverĂĄ fazer o encaminhamento ou orientar a paciente para que procure a delegacia de polĂcia. Na maior parte dos casos com internamento, o próprio hospital confirma a violĂȘncia e avisa a PolĂcia Civil.
DPE-AM