Representantes das Defesas Civis de vĂĄrios estados pediram a ajuda da Câmara dos Deputados para superar entraves na transferĂȘncia de recursos em situações de emergĂȘncia e estado de calamidade pĂșblica, cada vez mais comuns diante das mudanças climĂĄticas.
A burocracia e o rigor de algumas leis também tĂȘm impedido o pronto-atendimento às vĂtimas de catĂĄstrofes. A Defesa Civil estadual de São Paulo pediu alterações nas leis de Responsabilidade Fiscal e do Cadim, um dos cadastros de débitos não pagos com a União.
A subdiretora de Defesa Civil do estado de SP, major Tatiana Rocha, mostrou como itens dessas leis impediram o estado de firmar convĂȘnios voluntĂĄrios com os municĂpios paulistas que decretaram emergĂȘncia ou calamidade em 2023 e 2024. "De 135 municĂpios que tiveram a decretação, nós conseguimos chegar com recurso por meio de convĂȘnio apenas em 11 municĂpios. Obviamente, a gente acaba auxiliando por meio de doação e ajuda humanitĂĄria, mas a questão é que, via convĂȘnio, conseguimos celebrar apenas com 11 municĂpios justamente pelo grau de severidade que a gente tem na legislação", afirmou.
A major explicou a necessidade desse ajuste na legislação. "Os nossos eventos climĂĄticos relacionados às chuvas vão acontecer em dezembro, que é a hora em que eu estou encerrando o exercĂcio orçamentĂĄrio. E, muitas vezes, a gente vai bater na porta de uma utilização de recurso quando o recurso jĂĄ foi recolhido e só vai retornar no ano seguinte. O recurso da saĂșde é excepcionalizado nesse sentido e entendemos que o recurso para desastres também deveria ser", salientou.
Duas medidas provisórias sobre o tema foram aprovadas nesta quarta-feira pela Câmara:
- MP prevĂȘ R$ 383 milhões para ajuda ao RS em razão de enchentes
- MP destina R$ 118,2 milhões para ações de recuperação no RS
O secretĂĄrio nacional de Defesa Civil avaliou que as atuais leis e a possibilidade de edição de medidas provisórias jĂĄ garantem rapidez no repasse de recursos. No entanto, Wolff reclamou da dificuldade das prefeituras em processos simples de solicitação do estado de emergĂȘncia no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).
"O sistema tem os modelos de como se deve proceder para fazer uma declaração. São cinco modelinhos e, mesmo assim, os municĂpios ainda tĂȘm dificuldade e isso impacta na celeridade do processo de encaminhamento de recursos para o municĂpio", disse o secretĂĄrio nacional de Defesa Civil.
Wolney Wolff apontou a falta de uma carreira pĂșblica e oficial como outro "entrave histórico" da defesa civil. "Eu, particularmente, acredito que o pontapé tem que ser do governo federal. Com concurso pĂșblico e servidores pĂșblicos dedicados, a gente vai dar um salto de qualidade no nosso resultado à população impactada do desastre. Isso serĂĄ um exemplo para estados e municĂpios", disse.
"Nós vamos trabalhar essa questão da alteração da Lei do Cadin e da Lei de Responsabilidade Fiscal, nós jĂĄ apresentamos projetos. Também vamos buscar uma forma de, ao final do trabalho dessa comissão, apresentar uma lei geral de transferĂȘncia nos casos de emergĂȘncia e calamidade pĂșblica e para não contingenciar recursos no perĂodo de calamidade e emergĂȘncia", disse o relator.
O deputado TarcĂsio Motta (Psol-RJ) defendeu um "sistema Ășnico de proteção socioambiental" para superar a atual gestão fragmentada da defesa civil.
O primeiro compromisso serĂĄ um encontro com o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e com outros gestores municipais que atuaram diretamente no socorro às vĂtimas e na reconstrução da cidade.
AgĂȘncia Câmara NotĂcias