No parecer, o conselheiro MaurĂcio Abdalla Guerrieri recomenda que seja realizado o ato de cassação em uma sessão solene no dia 1° de abril de 2025, data que, para parte dos historiadores, é considerada a da deflagração do golpe de Estado, que iniciou a ditadura militar em 1964.
O MPF também lembrou que o reitor da Ufes à época, Manoel Xavier Paes Barreto Filho, foi destituĂdo ainda em 1964. E que houve uma série de perseguições na universidade organizadas pela Delegacia Especializada de Ordem PolĂtica e Social (DOPS): "violações de direitos humanos que atingiram cerca de 90 pessoas, entre estudantes, funcionĂĄrios e professores".
"A permanĂȘncia de pessoas que participaram das violações de direitos humanos perpetradas no bojo da ditadura militar no Brasil no quadro de homenageados da UFES, perpetua a violĂȘncia por eles praticada, mantém viva a dor dos que sofreram, inclusive na memória coletiva, e retrata o algoz como herói, como alguém importante para a instituição e para a sociedade", disse o ofĂcio do MPF.
O reitor da Ufes encaminhou ofĂcio ao Conselho UniversitĂĄrio em 16 de abril de 2024. O parecer final do conselheiro MaurĂcio Abdalla Guerrieri, publicado hoje, segue a mesma linha de raciocĂnio do MPF.
"Outorgar a mais alta honraria da universidade a pessoas que consciente e ativamente compuseram e/ou comandaram um regime responsĂĄvel pelo cerceamento da livre produção e expressão do conhecimento e das artes e pela prisão, tortura, demissão e perseguição de professores e alunos da própria instituição (e mesmo que tal ocorresse apenas fora dela!) pode ser, em uma primeira avaliação em que se aplicasse toda a benevolĂȘncia possĂvel aos propositores da entrega do tĂtulo na época, uma inexplicĂĄvel contradição", disse.
"Porém, manter a outorga do tĂtulo, sendo hoje sabedores de tudo o que nos relata a história, nos associaria ao ato e nos faria coniventes com a concessão da mĂĄxima dignidade aos que violentaram seres humanos e o próprio espĂrito do que chamamos de academia", compleotu.
O parecer do Conselho UniversitĂĄrio da Ufes é concluĂdo com a lembrança dos perigos recentes à democracia brasileira.
"Em um momento em que se atiça, mais uma vez no paĂs, a sanha golpista e autoritĂĄria, inclusive com tentativa recente de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, reconhecida e denunciada pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica ao Supremo Tribunal Federal em 18 de fevereiro deste ano, é preciso que se envidem todos os esforços para concretizar a Justiça de Transição, recuperando a memória e reparando os erros dos perĂodos de exceção", diz o documento.
AgĂȘncia Brasil