
Cerca de 50 ex-Testemunhas de Jeová realizaram um protesto em Cesário Lange (SP) no dia 15 de fevereiro de 2025, em resposta à visita de Robert Ciranko, líder global da igreja.
A manifestação, que começou às 8h na cidade-sede da religião Betel no país, onde Ciranko também está hospedado, teve como objetivo denunciar casos de pedofilia, discriminação contra ex-membros e a proibição de transfusões de sangue, mesmo em emergências.
Os manifestantes, muitos dos quais perderam contato com parentes ainda fiéis à igreja, buscam acabar com a proibição de convivência com ex-membros para reconstruir laços familiares e sociais.
"Muitas Testemunhas de Jeová dizem que não orientam ninguém a perder laços familiares, já que a escolha em seguir ou não a religião é assunto pessoal. Só que, na prática, não é isso o que acontece", relata Yann Rodrigues, líder do Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ). "O próprio líder da doutrina [Robert Ciranko] reforça a ideia de que fiéis devem recusar contato com ex-membros; que não devem se sentar na mesma mesa - isso tudo "em nome de Jeová"."
Rodrigues, que foi expulso de casa aos 15 anos após deixar a religião, explica que apenas a revogação total dessa orientação, incluindo nos canais oficiais da igreja, permitirá que ex-membros voltem a conviver com seus familiares.
"Essa ideia ultrapassada divide famílias em todo o Brasil, atingindo diferentes camadas sociais. Para se ter noção, há casos em que pessoas precisam registrar Boletim de Ocorrência para comprovar o abandono por parte de pais ou filhos", explica Rodrigues.
O grupo também busca eliminar a exigência de duas testemunhas para que a igreja investigue casos de pedofilia, medida que, segundo os ex-fiéis, tem deixado muitos abusadores impunes.
Os dissidentes também protestam contra a chamada "Doutrina de Sangue", que impede transfusões de sangue, mesmo em risco de vida. De acordo com Rodrigues, essa prática já teria vitimado 80 mil crentes apenas no Brasil, incluindo crianças.
A rejeição imposta por algumas famílias a ex-membros causa danos psicológicos significativos, levando muitos a buscar reparação na Justiça e apoio psicológico. O isolamento intensifica sentimentos de ansiedade, pânico e medo, especialmente em datas festivas e encontros familiares.
"Trata-se de uma dor irreparável", acrescenta Rodrigues. "Desejamos que Ciranko se solidarize com nossa dor e revogue esta medida que afeta a saúde mental de todos nós. Somos vítimas deste sistema doentio e retrógrado."
O protesto contou com cartazes denunciando a situação e a discriminação sofrida pelos ex-membros. A situação demonstra o impacto das doutrinas da religião na vida de seus ex-membros e seus familiares.
Entre os principais pontos de reivindicação estão o fim da proibição de contato com ex-membros, a facilitação de investigações de casos de pedofilia e o fim da proibição de transfusão de sangue.
Fonte: revistaoeste