O propósito da publicação é estimular gestoras e gestores municipais a criarem estruturas administrativas que implantem polĂticas pĂșblicas em favor de mais equidade entre homens e mulheres e da ampliação de direitos delas.
A criação de secretarias de PolĂticas para as Mulheres deve ser uma das prioridades das 728 prefeitas que tomaram posse em 1° de janeiro. A avaliação é da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, em entrevista.
De acordo com ela, "o segundo desafio é orçamentĂĄrio", ou seja, ter recursos para custear polĂticas de combate à violĂȘncia contra as mulheres e financiar iniciativas para geração de trabalho, emprego e renda – "duas demandas fortes" ouvidas pela ministra no encontro com as novas prefeitas na tarde dessa quarta-feira (12).
Primeira secretaria
A pauta de polĂticas pĂșblicas para as mulheres se assemelha à agenda que havia em 2005 quando Moema Gramacho (PT-BA) assumiu o primeiro dos quatro mandatos de prefeita que exerceu na cidade de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador (BA). Ela foi a primeira gestora municipal a criar uma secretaria de PolĂticas para Mulheres.
"É preciso polĂticas pĂșblicas que deem independĂȘncia e autonomia às mulheres", defende Moema, que hoje participa das direções da Associação Brasileira de MunicĂpios (ABM) e da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP). Para ela, a geração de trabalho, emprego e renda é fundamental para evitar situações em que as mulheres precisam denunciar homens por causa de violĂȘncia de gĂȘnero, mas os agressores são os próprios companheiros, provedores da famĂlia.
Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança PĂșblica, 63% dos autores de feminicĂdio em 2023 eram parceiros Ăntimos e 21,2% eram ex-parceiros.
Moema Gramacho lembra que a violĂȘncia fĂsica contra a mulher diminuiu depois da implantação da Lei Maria da Penha em 2006. Para ela, no entanto, outras formas de violĂȘncia perduram. "Quando me candidatei pela primeira vez à prefeitura, ouvi de um dos nossos adversĂĄrios que eu "não ia para lugar nenhum" e que mulher "que só sabe tocar fogão, não vai saber tocar uma prefeitura.""
Manifestações misóginas também ouviu, vinte anos depois de Moema Gramacho, a prefeita de Mozarlândia (GO) Lucijane Freires Alencar (MDB-GO). Durante a campanha eleitoral do ano passado, ela relata que enfrentou discriminação. "As pessoas falavam que mulher não tem competĂȘncia."
Empatia
Para Lucijane Freires Alencar, "o mundo carece de mais mulheres na polĂtica por causa da visão diferenciada, com mais empatia". Ela recomenda "a todas as mulheres que tĂȘm interesse e a coragem que se candidatem e se coloquem à disposição da polĂtica. "Somos capazes e competentes."
Lucijane Freires Alencar e Moema Gramacho estão em polos polĂticos diferentes. Mas apesar das distinções ideológicas e partidĂĄrias, gestoras como elas mantĂȘm diĂĄlogo e compartilham iniciativas, como ocorre no Movimento Mulheres Municipalistas (MMM), criado em 2017 com o apoio da Confederação Nacional dos MunicĂpios (CNM).
"O Movimento Mulheres Municipalistas tem sido um espaço fundamental para essa articulação. Por meio dele, conseguimos trocar experiĂȘncias, fortalecer nossa participação polĂtica e pressionar por polĂticas pĂșblicas que atendam às demandas das mulheres nos municĂpios", diz Tania Ziulkoski fundadora do movimento e também prefeita de Pimenteiras (PI).
Apesar de serem maioria na população e no eleitorado, as mulheres seguem sub-representadas na polĂtica, como registra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas eleições municipais do ano passado, além das 728 prefeitas eleitas (13% das cidades), 1.066 vice-prefeitas formaram chapas (19% dos municĂpios). O nĂșmero de vereadoras eleitas (10.537) é quase cinco vezes menor do que o nĂșmero de homens eleitos (47.189).
Apenas duas mulheres foram eleitas como prefeitas de capital: EmĂlia CorrĂȘa (Aracaju-SE), do PL, e Adriane Lopes (Campo Grande-MS), do PP.
Tania Ziulkoski cita levantamento feito pela CNM no ano passado que contabilizou outros indicadores da sub-representação feminina: "2.311 candidatas foram registradas para disputar o cargo nas prefeituras de 1.947 cidades, nĂșmero que corresponde a 15% do total de candidatos do pleito deste ano."
AgĂȘncia Brasil