A lista divulgada pelo governo paulista inclui uma escola na capital, quatro na região metropolitana e duas no litoral. As demais são do interior do estado.
CrĂticas
O modelo é polĂȘmico e recebe muitas crĂticas. Mas o governador TarcĂsio de Freitas defende a sua implantação, negando que o projeto seja ideológico.
A Secretaria Estadual da Educação garante que os militares não vão atuar em sala de aula e nem ocupar os cargos dos profissionais da educação, atuando apenas "no acolhimento e preparo dos alunos na entrada dos turnos, no intervalo das aulas e nos perĂodos de encerramento dos turnos". A secretaria diz ainda que os militares vão colaborar "nos projetos educativos extraclasses e na busca ativa dos alunos".
O modelo paulista se inspirou em projeto do governo de Jair Bolsonaro, que previa que os militares atuariam na gestão escolar e educacional. Mas assim que assumiu o governo federal, o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva revogou o modelo por decreto.
A revogação foi defendida, na ocasião, pelo Movimento Todos pela Educação.
"O formato do Programa Nacional de Escolas CĂvico-Militares – instituĂdo no governo Bolsonaro – era um modelo pedagógico equivocado e excludente. O modelo militarizado de escolas deveria ser restrito às escolas das Forças Armadas, para jovens que desejam esse tipo de formação e carreira, com militares que tiveram formação no campo educacional", argumentou o movimento.
Ainda segundo a entidade, "a construção do programa também demonstrava uma visão distorcida das prioridades na educação pĂșblica brasileira, com desvio de foco, de tempo e de recursos pĂșblicos. Portanto, a atual gestão do Ministério da Educação acerta ao indicar o encerramento do programa, respeitando a autonomia dos estados e considerando que essas escolas estão atualmente funcionando, com alunos que não podem ser prejudicados".
Apesar da revogação , o governo paulista tem insistido nesse modelo, provocando muitos questionamentos. No ano passado, por exemplo, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão encaminhou um documento à Procuradoria-Geral da RepĂșblica afirmando que o modelo de militarização das escolas civis do governo TarcĂsio não encontra amparo na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que regulamenta o ensino no paĂs.
De acordo com o parecer, o modelo que pretende ser adotado pelo governo paulista afrontaria os princĂpios constitucionais da liberdade de pensamento, da valorização do profissional da educação e da gestão democrĂĄtica da escola.
"À luz dessas disposições constitucionais, verifica-se a incompatibilidade do projeto de militarização de escolas civis com os direitos à intimidade, à vida privada e à liberdade de expressão, de pensamento, de consciĂȘncia crĂtica e com o pluralismo de ideias, haja vista o perigo de cerceamento ao livre desenvolvimento de crianças e adolescentes, cujo processo de formação da própria personalidade demanda especial proteção do Estado, sem que se imponham visões de mundo ou exigĂȘncias de adequação a modelos definidos unilateralmente", diz o subprocurador-geral da RepĂșblica Nicolao Dino Neto no documento.
Também no ano passado, a Advocacia-Geral da União (AGU) ofereceu ao Supremo Tribunal Federal (STF) um parecer a favor da inconstitucionalidade do modelo de escolas cĂvico-militar pretendida pelo governador TarcĂsio.
No documento, a AGU sustenta que os estados não podem instituir modelo educacional que não esteja previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Além disso, o órgão acrescenta que a Constituição também não prevĂȘ que militares possam exercer funções de ensino ou de apoio escolar.
"A alocação de militares da reserva para a execução de atividades relacionadas à educação bĂĄsica fora do sistema de ensino militar formal, ainda que na condição de apoio ou monitoramento, não encontra respaldo nas normas fundamentais do sistema educacional brasileiro, nem previsão compatĂvel com a finalidade constitucional dessas instituições", concluiu a AGU.
Em visita ao Brasil de 30 de março a 7 de abril, o relator especial para a Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não-Repetição, da Organização das Nações Unidas (ONU), Bernard Duhaime, manifestou preocupação com a adoção desse modelo cĂvico-militar nas escolas brasileiras.
"Informaram-me ainda que, durante o governo anterior, foi adotada uma polĂtica de "escolas cĂvico-militares", segundo a qual algumas escolas pĂșblicas e privadas mudaram de gestão para serem dirigidas por militares que impõem prĂĄticas militares e às vezes ministram aulas a estudantes civis, levando a uma preocupante militarização da educação. Embora a polĂtica tenha sido dissolvida pela atual administração, as escolas que mudaram de gestão não foram reconvertidas para o modelo de gestão cĂvica", observou o representante da ONU.
AgĂȘncia Brasil