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Abril Indígena

Indígenas lotam plenário da Câmara em sessão que exalta mobilização

A Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira (8), uma sessão em homenagem à 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL).


Indígenas de várias etnias participantes do Acampamento Terra Livre (ATL) fazem marcha no Eixo Monumental de Brasília Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil.

A Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira (8), uma sessão em homenagem à 21ÂȘ edição do Acampamento Terra Livre (ATL). Maior mobilização indĂ­gena do paĂ­s, o evento, organizado pela Articulação dos Povos IndĂ­genas do Brasil (Apib), começou na segunda-feira (7) e segue até a sexta-feira (11), com a expectativa de atrair entre 6 mil e 8 mil participantes de ao menos 135 etnias de todo o paĂ­s.

A sessão de homenagem foi proposta pela deputada federal Célia XakriabĂĄ (Psol-MG) e contou com as presenças de lideranças do movimento indĂ­gena; das ministras dos Povos IndĂ­genas, Sônia Guajajara, e dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, além da presidenta da Fundação Nacional dos Povos IndĂ­genas (Funai), Joenia Wapichana, e do secretĂĄrio de SaĂșde IndĂ­gena do Ministério da SaĂșde, Ricardo Weibe Tapeba.

"Este é o Congresso Nacional que sonhamos para o futuro. O Congresso de um Brasil que começa conosco [indĂ­genas], os primeiros brasileiros, e que, no entanto, somos o Ășltimo [grupo] a chegar ao Congresso Nacional", comentou a deputada Célia XakriabĂĄ.

A parlamentar presidiu a sessão ? marcada pela presença, no plenĂĄrio, de dezenas de indĂ­genas paramentados com adereços tradicionais, muitos deles usando as pinturas corporais tĂ­picas de seus povos.

Direitos

Durante a sessão da Câmara, um dos coordenadores executivos da Apib convidados a discursar, Dinamam TuxĂĄ, criticou iniciativas parlamentares que afrontam os direitos indĂ­genas. A seu ver, as proposições desfiguram o texto constitucional, com propostas como o chamado Marco Temporal – tese jurĂ­dica segundo a qual os indĂ­genas só teriam direito às terras que ocupavam em outubro de 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.

"Temos uma Constituição [Federal], aprovada por esta Casa, que ainda não foi implementada na sua totalidade. [Consequentemente] a violĂȘncia impera dentro dos territórios indĂ­genas. Neste exato momento, por exemplo, hĂĄ fatos ocorrendo no território Pataxó [no sul da Bahia], bem como em outras ĂĄreas sob ataque. Esta violĂȘncia se estende por todo o território nacional e nós sabemos quem são os mandantes. Enquanto isso, esta mesma Casa estĂĄ se articulando e mobilizando proposituras de PECs [Propostas de Emenda à Constituição] e PLs [Projetos de Lei] que afrontam os direitos fundamentais dos povos indĂ­genas", afirmou Dinamam.

A defesa da Constituição em vigor desde 1988 é uma das pautas da atual edição do Acampamento Terra Livre. Em parte porque, embora não tenha sido integralmente implementada, pode ser considerada um marco na conquista e garantia de direitos pelos povos indĂ­genas, estabelecendo que as diversas etnias tĂȘm direitos sobre os territórios tradicionalmente ocupados por seus antepassados, e que cabe à União proteger estas ĂĄreas.

Acampamento

Com o tema "Apib Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida", o 21° Acampamento Terra Livre estĂĄ estruturado em cinco eixos: "Apib Somos Todos Nós", "ResistĂȘncia e Conquista", "Desconstitucionalização de Direitos", "Fortalecendo a Democracia" e "Em Defesa do Futuro – A Resposta Somos Nós".

Segundo os organizadores do ATL, o evento "destaca o empenho dos povos indĂ­genas na garantia dos seus direitos, previstos na Constituição Federal, além de celebrar a união e a resistĂȘncia da Apib", organização criada em 2005, durante a segunda edição do ATL.

"Quero saudar os 20 anos da Apib e os 21 anos do Acampamento Terra Livre, esta grande mobilização que jĂĄ se tornou não só a maior assembleia dos povos indĂ­genas do Brasil, como também a maior mobilização indĂ­gena do mundo", comentou a ministra Sônia Guajajara.

"O ATL é sinônimo de luta, resistĂȘncia, teimosia, denĂșncia, mas não podemos nos esquecer de que ele também é sinônimo de beleza, diversidade, cultura e sabedoria ancestral", acrescentou a ministra

Sônia Guajajara atribui à mobilização polĂ­tica dos povos originĂĄrios a eleição de um grupo de parlamentares indĂ­genas que, hoje, forma a chamada "bancada do cocar". Outra conquista dessa luta, na visão dela, é a própria criação do Ministério dos Povos IndĂ­genas, em 2023, primeiro ano do terceiro governo Lula.

ResistĂȘncia

A presidenta da Funai, Joenia Wapichana, lembrou que, hĂĄ mais de 500 anos, os indĂ­genas brasileiros resistem ao processo de colonização de seus modos de vida. Joenia também fez coro aos que defendem a demarcação de terras da União destinadas ao usufruto exclusivo indĂ­gena como "uma estratégia de enfrentamento às crises climĂĄticas.

"Para isso, as demarcações [de terras indĂ­genas] tĂȘm que ser respeitadas. Tem que haver investimento para a proteção dos territórios indĂ­genas, para, assim, termos dignidade, soberania alimentar e para manter esta riqueza cultural que o Brasil sempre mostra nos cartões postais", comentou Joenia, que, em 2022, foi reeleita deputada federal por Roraima com o apoio da Campanha IndĂ­gena, criada pela Apib para apoiar candidatos indĂ­genas comprometidos com o movimento.

Uma das mais importantes lideranças indĂ­genas do paĂ­s, o cacique Raoni Metuktire, da etnia caiapó, apelou a todos os presentes para que prossigam com a luta de seus antepassados pelo cumprimento dos direitos indĂ­genas.

"Temos que continuar defendendo nosso direito à terra para, um dia, podermos ter nossos territórios [?] Temos que estar firmes para continuar lutando contra os não-indĂ­genas que querem destruir o que é nosso. VocĂȘs estão vendo, eu estou cada vez mais cansado. Agora, esta luta é com vocĂȘs, [indĂ­genas] mais jovens [?]. VocĂȘs não podem entrar em conflitos entre vocĂȘs. TĂȘm que se respeitar, lutar e estar juntos, unidos, fortes contra qualquer ameaça", discursou Raoni.

Aldeamento

O secretĂĄrio nacional de SaĂșde IndĂ­gena, Weibe Tapeba, frisou que a criação do Ministério dos Povos IndĂ­genas, comandado por uma indĂ­gena, bem como o fato de outros representantes indĂ­genas ocuparem postos-chave na administração pĂșblica federal com o aval do movimento, é resultado da mobilização e organização indĂ­gena, no qual se insere o Acampamento Terra Livre e a criação da Apib.

"Estamos aldeando a gestão pĂșblica, aldeando este parlamento, por toda uma conjuntura de defesa dos direitos dos povos indĂ­genas; de combater as violações. Eu queria reconhecer a importância do ATL e da Apib", reconheceu.

Weibe lembrou que foi durante a edição do acampamento de 2022 que o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, então pré-candidato, "assumiu o compromisso de criar o Ministério dos Povos IndĂ­genas e colocar a Funai e a Sesai sob o comando de gestores indĂ­genas".

"E aqui estamos nós. Isso demonstra a importância da articulação dos povos indĂ­genas do Brasil, a importância do movimento indĂ­gena organizado e a importância de ocuparmos estes espaços", finalizou o secretĂĄrio nacional.


AgĂȘncia Brasil

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