"A presença feminina tem sido cada vez mais representativa", destacou o governo, em comunicado, neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
"São dados que mostram um processo paulatino, um processo lento de mudança de participação polĂtica, social, econômica nesses espaços de poder e decisão. No entanto, hĂĄ uma reprodução das desigualdades no que tange às mulheres negras, mulheres indĂgenas, mulheres quilombolas, mulheres do campo, mulheres de oriundas de populações tradicionais", destaca.
Ela lembra, ainda, que a participação feminina é maior em cargos de execução das polĂticas, e menos naqueles de tomada de decisão.
"Quando a gente vai subindo na hierarquia dos cargos, o nĂșmero de mulheres vai se reduzindo. Então, se a gente tem um grande nĂșmero de mulheres no nĂvel de chão de fĂĄbrica, digamos assim, no nĂvel de representação de uma pasta ministerial são muito poucas mulheres."
"E isso é presente não só no nos espaços governamentais, mas em todos os espaços de representação econômica, social e polĂtica no Brasil", afirma Ana Julieta.
De acordo com o MGI, o nĂșmero de mulheres em cargos e funções — comissionadas de direção e assessoramento e gratificações técnicas –, também aumentou ao longo dos Ășltimos anos.
A participação feminina, nesse caso, passou de 40% em 2022 para 42% em 2025.
Quanto aos cargos de direção e assessoramento de nĂvel 13 a 17, o que inclui os de coordenadoras-gerais, diretorias, assessorias especiais, secretĂĄrias e equivalentes, o aumento da participação das mulheres foi maior, subindo de 34,9% em 2022 para 39,2% em 2025.
O comunicado do governo do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva destacou, ainda, "o esforço da atual gestão" em aumentar a participação feminina na Administração PĂșblica Federal.
Considerando apenas o total de cargos de direção e assessoramento criados pelo governo atual, dos 1.270 de nĂvel 13 a 17, aqueles ocupados por mulheres somam 965 ou 76% do total.
PolĂtica de cuidado
O governo federal cita as polĂticas pĂșblicas desenvolvidas para ampliar e dar melhores condições para a presença feminina no mercado de trabalho, como a Lei de Igualdade Salarial, cotas para mulheres em situação de violĂȘncia doméstica em contratações pĂșblicas e o Programa Federal de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e da Discriminação na Administração PĂșblica Federal.
A professora de CiĂȘncia PolĂtica da Universidade de BrasĂlia, Flavia Biroli, afirma que ações para se produzir relações mais igualitĂĄrias nos espaços de trabalho seguem sendo fundamentais, tanto para diminuir as assimetrias de acesso à empregabilidade, como para promover um debate pĂșblico em torno dessas desigualdades.
Para ela, no entanto, é fundamental integrar essas ações com o Plano Nacional de Cuidado.
"Um dos aspectos que levam às desigualdades de gĂȘnero entre mulheres e homens no espaço de trabalho é o fato de que a divisão sexual do trabalho que envolve a divisão do cuidado, faz com que as mulheres sigam sendo as principais responsĂĄveis pelo cuidado de crianças pequenas, de pessoas com necessidades especiais e de idosos", explica.
"A conciliação entre o trabalho remunerado e o trabalho não remunerado de cuidado é uma questão fundamental para gente ter igualdade nos espaços de trabalho", disse, citando, por exemplo, uma complementaridade entre oferta de creches pelas empresas privadas e creches pĂșblicas de qualidade, "com horĂĄrios compatĂveis com os dos horĂĄrios de trabalho das pessoas".
"Em que pese, ainda tenhamos um longo caminho pela frente, essa luta vem tendo resposta e uma forma de a gente reconhecer isso é a implementação dessas polĂticas pĂșblicas", afirma.
O coletivo também destaca que essas polĂticas buscam dar uma resposta a uma situação sistĂȘmica, em um processo que leva tempo e que precisa de uma mudança cultural tanto no âmbito individual, quanto no âmbito institucional. Nesse sentido, para as servidoras, é preciso observar as respostas que serão dados, por exemplo, aos casos de assédio e à questão da equiparação salarial, pelo mercado privado e pelo poder pĂșblico.
Representatividade
Para Lais, é preciso também garantir a representatividade da população brasileira no serviço pĂșblico, com a implementação efetiva das polĂticas de cotas nos concursos pĂșblicos federais.
"No final, a gente realiza polĂtica pĂșblica para quĂȘ e para quem? Sem essa representação, a gente não tem um olhar especĂfico do retrato do que é a sociedade. Então quando a gente vai pensar no serviço pĂșblico diverso, a gente estĂĄ partindo do pressuposto de que existem diversos olhares", diz.
"E um serviço pĂșblico feito por essas pessoas, por pessoas que podem representar e trazer um pouco da sua história, representa um olhar focado e centrado em uma polĂtica pĂșblica de mais qualidade, não só em cargos de execução primĂĄria, mas também nas tomadas de decisão de qual paĂs queremos e de qual sociedade queremos e como construir a cidadania dessa população brasileira", completa.
Ana Julieta explica que cargos de execução primĂĄria envolvem, por exemplo, o trabalho de assistentes sociais, de enfermeiras, de técnicas de enfermagem e de profissionais de educação bĂĄsica. Segundo ela, são cargos ocupados por mulheres negras, de menor reconhecimento social e menor nĂvel remuneratório.
"E são todas ocupações de altĂssima relevância para a sociedade brasileira", destacou, cobrando que haja um maior reconhecimento das atuações na linha de frente, inclusive com maiores salĂĄrios.
"É fundamental para que as polĂticas pĂșblicas também possam refletir uma justiça social que atenda a maioria da população brasileira", completa.
AgĂȘncia Brasil