O novo pedido foi feito na véspera, depois de Moraes ter negado o prazo em dobro solicitado pela defesa. O ministro negou reconsiderar sua decisão anterior e reiterou que o general tem até as 23h59 de sexta-feira (7) para se defender das acusações.
O ministro aplicou ao caso o prazo previsto no regimento interno do Supremo, de 15 dias para a apresentação de defesa contra denĂșncia criminal. A defesa de Braga Netto, contudo, argumenta que a legislação penal e os precedentes da Corte recomendam a concessão do prazo em dobro.
Entre outros argumentos, a defesa alega não haver tempo suficiente para se examinar as centenas de milhares de elementos de prova e documentos que serviram de base para a denĂșncia. Em um dos hard drives [discos rĂgidos] recebidos, por exemplo, haveria 390 gigabytes de dados e mais de 110 mil arquivos, apontaram os advogados.
Outro argumento é o de que Braga Netto teria o direito de apresentar defesa somente depois do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que firmou acordo de delação premiada. Esse pedido tem como base o artigo 4 da Lei de Colaboração Premiada, segundo o qual o delatado deve ter o direito de se manifestar após o delator "em todas as fases do processo".
Na decisão desta quinta-feira, o ministro Alexandre de Moraes manteve sua posição de que "não hĂĄ previsão legal" para apresentação de defesa depois do delator, pois a garantia dada pela lei se aplicaria somente após eventual abertura de ação penal, ou seja, após a aceitação ou não da denĂșncia.
Para os advogados, a interpretação restritiva do termo "processo", constante na lei, viola o princĂpio da ampla defesa e do contraditório. Eles apresentaram precedente do próprio Moraes que, para a defesa, autorizaria a manifestação do acusado somente após o delator.
Acesso às provas
Os advogados José Luis Oliveira Lima e Rodrigo Dall"Acqua também alegam não terem acesso à Ăntegra das provas que embasaram a denĂșncia. Segundo eles, o material entregue a eles não seria o mesmo remetido para a outra defesa, tendo mais de mil arquivos a menos.
A defesa também afirma que processos fĂsicos, ainda não digitalizados, e que foram indicados pela PGR como subsĂdios para a denĂșncia, não teriam sido disponibilizados.
Moraes voltou a rebater ponto a ponto a existĂȘncia de provas inacessĂveis, afirmando mais uma vez "que a Defesa de Walter Souza Braga Netto possui o amplo acesso aos elementos de prova documentados, inclusive aos elementos de prova mencionados na denĂșncia".
DenĂșncia
Braga Netto foi denunciado no fim do mĂȘs passado pelo procurador-geral da RepĂșblica, Paulo Gonet, junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 32 pessoas. Todos foram acusados de planejar e tentar executar um golpe de Estado e de abolir o Estado DemocrĂĄtico de Direito, entre outros crimes.
O general foi ministro da Casa Civil e da Defesa durante o governo Bolsonaro e, segundo Gonet, teve papel central na trama golpista, inclusive com o fornecimento de dinheiro em espécie para que o plano fosse executado.
O militar estĂĄ preso preventivamente desde dezembro do ano passado, por determinação de Moraes. Segundo a PolĂcia Federal (PF), o general da reserva e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 teria tentado obstruir a investigação sobre a tentativa de golpe.
A PolĂcia Federal identificou que o general, indiciado por ser um dos principais articuladores do plano golpista, tentou obter dados sigilosos da delação de Mauro Cid. Após a prisão, a defesa negou que Braga Netto tenha obstruĂdo as investigações.
Saiba qual foi a participação de cada um dos 34 denunciados pela tentativa de golpe.
AgĂȘncia Brasil