Correr e ser agredida por agentes da Guarda Municipal estĂĄ longe de ser uma novidade na vida de Lucimar.
"Sempre tive problema sério de visão. E escolhia ficar trabalhando no meio dos outros camelôs. Nunca era a primeira nas pontas. Para quando a guarda chegasse, eu tivesse tempo de correr e não apanhar. Mesmo assim, jĂĄ sofri muitas agressões. Levei paulada uma vez, caĂ e bati com a cabeça na porta de uma loja. Também fui atropelada ao correr da guarda, que queria pegar meus produtos", conta a trabalhadora.
Em dezembro de 2023, o Ministério PĂșblico Federal (MPF) enviou uma recomendação à Seop e ao Comando da Guarda Municipal para criarem um protocolo de atuação dos agentes nas ruas. Entre elas, o uso de câmeras nos uniformes para prevenir atos de violĂȘncia contra vendedores ambulantes. Mas ainda não hĂĄ qualquer indicativo de que a instituição adote as recomendações.
AudiĂȘncia
Nesta quarta-feira (5), o MPF convocou uma audiĂȘncia pĂșblica para falar sobre a situação dos ambulantes na cidade. O encontro teve a participação da Defensoria PĂșblica do Estado, de lideranças do SindInformal e do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), e de um representante da Guarda Municipal. O prefeito Eduardo Paes e o secretĂĄrio de Ordem PĂșblica, Brenno Carnevale Nessimian, foram convidados, mas não compareceram e não enviaram representantes ao evento.
A reportagem da AgĂȘncia Brasil entrou em contato com a assessoria da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Ordem PĂșblica (Seop) para saber o motivo das ausĂȘncias na audiĂȘncia pĂșblica. Também foi questionado se existe algum tipo de medida em andamento para coibir e investigar casos de violĂȘncia de guardas municipais. O espaço estĂĄ aberto para posicionamento.
As discussões na audiĂȘncia pĂșblica tiveram como foco a ausĂȘncia ou a ineficiĂȘncia de polĂticas pĂșblicas para os ambulantes. As principais reivindicações trazidas foram: maior transparĂȘncia e organização no cadastramento dos trabalhadores; mapeamento dos locais de trabalho; criação de centros de referĂȘncia para esses trabalhadores; regulação e mapeamento dos locais de depósitos de mercadorias; estrutura pĂșblica de banheiros e ĂĄgua potĂĄvel; combate à violĂȘncia institucional.
"Nós fizemos uma opção honesta para trabalhar. E os companheiros precisam ter muito orgulho de ser camelôs, de saber que fazem parte da construção dessa cidade e que geram riquezas. Temos que continuar lutando por dignidade. Nós somos trabalhadores", disse Idison José da Silva, lĂder do SindInformal.
"Nós camelôs não descansamos nunca. Toda vez que a cidade estĂĄ em festa, os camelôs estão trabalhando. Na época do carnaval, as pessoas acampam e ficam nas ruas o tempo inteiro. Nós ajudamos a fazer a festa acontecer. Nesse sol de quarenta graus, eu duvido que o folião fique lĂĄ se não tiver um camelô para vender uma ĂĄgua ou outra bebida para ele. Somos nós que vamos atrĂĄs dos blocos. Apanhamos e servimos como garçons da festa. Dizer para o prefeito que com cadastro ou sem cadastro a gente vai trabalhar no carnaval. As pessoas trabalham o ano inteiro para chegar nessa época e virem fazer sorteio? Isso não existe", reclamou Maria dos camelôs, lĂder do MUCA.
No encontro, o MPF se comprometeu a reunir as reivindicações dos ambulantes e planejar linhas de ações para cobrar medidas do poder pĂșblico.
"Nós vamos tentar entender todas essas demandas e, junto com a Defensoria PĂșblica, cobrar a Prefeitura em relação às questões de licenciamento das pessoas que estão nessa situação. E a ideia é criar um espaço de acompanhamento permanente, não só sobre o carnaval, mas sobre todas as polĂticas pĂșblicas voltadas para os ambulantes", disse o procurador da RepĂșblica, Julio José Araujo.
AgĂȘncia Brasil