"Esse é um ponto muito importante, ter um aumento de transmissão e não ter um aumento significativo de óbitos", avalia o especialista em arboviroses da representação da Opas no Brasil, Carlos Melo. Arboviroses são doenças causadas por vĂrus transmitidos, principalmente, por mosquitos, como o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
O encontro acontece no cenĂĄrio em que o Brasil atinge 3,1 milhões de casos provĂĄveis de dengue nas 14 primeiras semanas de 2024. O dado foi divulgado na quinta-feira (11). Isso representa 1.529 casos para cada cem mil habitantes. Em 2023, o paĂs fechou o ano com 1,6 milhão de registros totais.
Segundo o Ministério da SaĂșde (MS), nove unidades federativas estão com tendĂȘncia de queda no quantitativo de casos; 13 apresentam estabilidade; e cinco, tendĂȘncia de alta.
JĂĄ foram confirmadas 1,292 mortes por causa da dengue, enquanto 1.875 estão sob investigação. Isso representa uma letalidade sobre o total de casos provĂĄveis de 0,04% no ano. Em 2023, no mesmo perĂodo, o Ăndice era de 0,07%.
Em relação ao total de casos graves, a letalidade é de 4,21% em 2024 contra 5,22% em 2023.
Carlos Melo atribui a redução proporcional do nĂșmero de mortos ao conjunto de ações coordenadas pelo Ministério da SaĂșde, que inclui vacinação focada no pĂșblico mais atingido por casos graves e a assistĂȘncia aos pacientes.
"Bala de prata"
O representante da Opas afirma que não hĂĄ uma solução Ășnica para mitigar ao mĂĄximo a epidemia de dengue. É preciso, na visão dele, uma atuação em vĂĄrias frentes, como vacinação, tecnologias cientĂficas, como os mosquitos contaminados com a bactéria Wolbachia - que impede a transmissão do vĂrus - e ações que combatam determinantes sociais.
Entre os fatores sociais que contribuem para o avanço da doença, ele cita falta de saneamento bĂĄsico, abastecimento irregular e necessidade de armazenamento de ĂĄgua, urbanização não controlada, manejo inadequado de resĂduos sólidos e a existĂȘncia de cinturões de pobreza nas grandes cidades, por exemplo.
"Não acreditamos em uma 'bala de prata' para controlar a epidemia de dengue", declarou.
Vacinação
A coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da SaĂșde, Livia Vinhal, concorda com a avaliação. "A gente precisa trabalhar com o conjunto de estratégias que somadas poderão, sim, impactar na redução dos casos".
LĂvia Vinhal entende que a vacinação colabora no enfrentamento da doença, mas acredita que os resultados poderiam ser melhores caso a imunização fosse feita com apenas uma dose.
O Brasil usa a vacina Qdenga, produzido pelo laboratório japonĂȘs Takeda. A imunização se alcança com duas doses, com intervalo de 90 dias entre elas. A vacina é segura, e o uso foi aprovado pela AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa).
"Uma vacina que seja dose Ășnica é o ideal. A gente conseguiria fazer [ações preventivas], inclusive, em momentos de surto, como a gente pode fazer, por exemplo, para febre amarela".
Uma preocupação do governo brasileiro é com a capacidade de produção do laboratório Takeda. Segundo o Ministério da SaĂșde, o Brasil comprou praticamente toda a produção do imunizante. Mesmo assim teve que limitar a aplicação para o pĂșblico entre 10 e 14 anos de idade, faixa etĂĄria que concentra maior nĂșmero de hospitalizações por dengue, atrĂĄs apenas dos idosos.
Com o aumento na oferta da Qdenga, a coordenadora Livia Vinhal espera resultados positivos no combate à dengue.
"Tendo uma vacina efetiva, segura e com grande capacidade de produção, a gente pode, não a curto prazo como gostarĂamos, mas a médio e longo prazos vislumbrar mudanças nesse cenĂĄrio que a gente tem visto nos Ășltimos anos", prevĂȘ.
Matéria alterada às 17h para atualização de dados
AgĂȘncia Brasil